quinta-feira, 14 de maio de 2020

2ª ENTREVISTA COM RICARDO OLIVEIRA

2a ENTREVISTA COM RICARDO OLIVEIRA

Ricardo Oliveira da Silva é Historiador, Professor do Curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Nova Andradina (UFMS/CPNA). Doutor em História, especialista em História das ideias, com pesquisas em Teoria da História, História Intelectual Brasileira do século XX e História do Ateísmo

Na internet o historiador usa o codinome Ricardo Russell e agora está lançando o livro "O ATEÍSMO NO BRASIL: OS SENTIDOS DA DESCRENÇA NO SÉC XX E XXI" (https://portal-ateismo.blogspot.com/2020/05/historiador-ricardo-russel-lanca-livro.html?m=1&fbclid=IwAR3qvDNmfBkmtLLCi1IrNsqSAcmPlW8KNSevAlzL2o8lnLpFytX60MCpJ5s)


Ateu Poeta 1: Um autor falou uma vez que "a desunião entre os ateus é o que salvará o mundo". Na prática, os ateus são a menor da minorias e o grupo mais desunido, mas, apesar disso as associações ateístas vêm fluindo pelo mundo e no Brasil pelo menos ainda existe até uma certa rivalidade entre elas e o padrão é a informalidade e a efemeridade. Como você enxerga a importância dos ateus se associarem em grupos, páginas ou associações? 

Dr Ricardo: 
A organização de setores da sociedade em associações e entidades é uma das formas de defesa de uma identidade de grupo e de uma pauta de demandas no espaço público. Sendo os ateus a “menor das minorias” isso se torna ainda mais necessário. Você só combate o preconceito e a discriminação contra o ateísmo se, por um lado, você se assume como ateu. E, nesse sentido, as associações podem desempenhar um papel fundamental ao mostrar aos ateus que eles não estão sozinhos no mundo e também em criar referências positivas sobre não ter crença religiosa. Com esse suporte, uma pauta política ganha força; como a defesa do Estado laico. Por isso eu apoio a existência dessas entidades.

Ateu Poeta 2: Muito provavelmente, o seu livro é o primeiro sobre a História do Ateísmo no Brasil e você também foi pioneiro em criar a disciplina "História do Ateísmo" o que me lembra que o historiador Richard Webster falava em ficar em nós sempre um pouco do que ele chamava de "messianismo", ele aponta isso em muitos nomes grandes como Freud, Darwin, Lévi-Strauss, dentre outros, mas o que ele chama de "messianismo" para muitos pode ser simplesmente uma vontade de tornar o mundo melhor. Você acha que os movimentos puxados por ateus podem tornar o mundo melhor de alguma forma? Como e para quem?

Dr Ricardo: O ativismo ateísta pode contribuir sim mediante a defesa do respeito à diversidade de valores e crenças existentes no interior da sociedade. Sendo mais específico: quando os ateus militam pela laicidade do Estado, eles não estão apenas pedindo para que as instituições públicas respeitem o seu direito de não ter crença religiosa e que não sejam discriminados por isso. 

Os ateus e ateias estão lutando também para que o Estado não discrimine ninguém pelo fato de a pessoa ter ou não uma crença religiosa.

Ateu Poeta 3: Quais as suas expectativas quanto à receptividade de público brasileiro à publicação do seu livro e como acha que isso impactará na história do Brasil em si?

Dr Ricardo: Desde que eu passei a me dedicar ao estudo da história do ateísmo no Brasil, isso em 2018, tenho tido dificuldade em encontrar material historiográfico sobre o tema. A impressão que eu fico é como se o ateísmo não existisse na história brasileira. 

Entre as expectativas que eu tenho em relação ao livro é que ele ajude a dar visibilidade ao tema e que possa ajudar outros pesquisadores e pesquisadoras a trilharem o caminho desse tipo de investigação.

Ateu Poeta 4: Quando você se descobriu ateu sentiu algum grande vazio existencial ou algum modo de alegria ao descobrir finalmente que não existe nenhum ser gigante a nos vigiar de algum além que tanto nos ensinam desde a mais tenra infância?

Dr Ricardo: A minha identificação como ateu não foi um processo traumático. Eu me tornei ateu por volta dos 18/19 anos em um cenário de envolvimento com estudos na área da História e da Filosofia, os quais me forneceram referências para construir uma visão de mundo sem viés religioso. 

Apesar disso, sei que para muitas pessoas deixar de ter a religião como referência de sentido sobre o mundo não é fácil, pois trazemos ela como algo naturalizado desde a infância a partir de um processo de ensino que começa com a família.

Ateu Poeta 5: Você já se sentiu sozinho por ser ateu ou já sentiu o peso enorme da censura em não poder falar sobre ateísmo em algum lugar ou com algumas pessoas por ser sempre um tema polêmico, por mais frio que se possa agir?

Dr Ricardo: Nunca cheguei a me sentir totalmente sozinho por ser ateu, pois já conhecia outras pessoas ateias quando passei a refletir sobre o assunto. No tema da censura, pensei que isso pudesse acontecer quando resolvi pesquisar a história do ateísmo em 2018. Contudo, até o momento isso não ocorreu. E penso que seria desagradável se acontecesse

Ateu Poeta 6: Você já deve ter visto aquelas campanhas de "ateus saiam do armário", inclusive impulsionado pelo escritor Richard Dawkins, salvo engano, o que você pensa a respeito? Cada ateu tem que dizer para o mundo que é ateu ou deve guardar isso para si e falar só em momentos oportunos para impedir a destruição familiar, perda de emprego e amigos, dente outras questões nessa linha?

Dr Ricardo: Eu penso que se os ateus querem ser respeitados pelo fato de não terem uma crença religiosa, se identificar com o ateísmo é fundamental. 

Nesse sentido, eu concordo quando o Richard Dawkins diz que os ateus devem ter como referência de luta a história do feminismo e da luta dos negros contra a discriminação racial. 

Agora, também tenho consciência da dificuldade e dos problemas que acarreta para uma pessoa dizer que não acredita em Deus. Por isso dizer publicamente ou para familiares que se é ateu é algo que cada pessoa deve avaliar como fazer e quando fazer. Não condeno as pessoas que têm receio em tomar essa atitude.

Ateu Poeta 7: Você já foi confrontado com a pergunta por alunos sobre "todo historiador" ou "todo professor de História" "ser ateu", o que não é verdade nem de longe, mas muitos perguntam isso. Você acha que os historiadores ateus são tão marcantes a ponto de causar a impressão de que todo historiador é ateu nas pessoas não-ateias ou você acha que esse tipo de questão na maioria das vezes pode ser só uma provocação feita à nós para testar a nossa reação?

Dr Ricardo: 
Eu acredito que a afirmação de que “todo historiador é ateu” possui um caráter mais provocativo do que fundamentação empírica. Quando eu estudei na faculdade, até onde eu sei, professores ateus eram uma minoria, e os que eram não tinham uma militância ateísta. 

E vejo isso ainda hoje entre os colegas de profissão que conheço em várias partes do país. Penso que o professor de História ateu pode marcar os alunos muito mais pelo ensino do conhecimento histórico que possui do que por causa do ateísmo que defende.

Ateu Poeta 8: Pelo que eu pude notar, há uma tendência à escrita acadêmica sore o ateísmo no Brasil, atualmente, incluindo no TCC do Edmar Luz, uma das figuras carimbadas do ateísmo na internet, fale um pouco sobre o convite que ele lhe fez para a orientação do seu trabalho acadêmico e como se sente a respeito.

Dr Ricardo: Conheci o Edmar Luz quando passei a pesquisar a história do ateísmo. Fiquei surpreso ao saber que ele colocou o ateísmo, principalmente na questão do Estado Laico, como uma bandeira em sua candidatura política no pleito de 2018 [2016].

Foi uma atitude corajosa. Ele teve uma postura gentil e atenciosa quando eu entrei em contato para obter informações sobre o ativismo ateísta dele. Foi, então, que ele me contou que estava fazendo mestrado em São Paulo tendo o ateísmo como tema de pesquisa. 

Fiquei feliz quando ele me convidou dias atrás para ser parte da banca de avaliação do trabalho dele. Torço para que mais pesquisas sobre o ateísmo surjam nos espaços acadêmicos do país. Isso é importante para tirar o ateísmo da invisibilidade que ainda o envolve no ambiente universitário

Ateu Poeta 9: Por fim, por que você acha importante essa crescente do ativismo ateísta de modo mais acadêmico e como acha que isso impacta no ativismo ateísta comum? Será que um ativismo influencia o outro ou correm vários modos de ativismo sem choque cultural entre eles?

Dr Ricardo: 
Eu acredito que o ativismo ateísta no Brasil pode se enriquecer com as reflexões produzidas no espaço acadêmico e pode fortalecer suas posições no debate público. Se isso vai acontecer eu não sei dizer, mas é uma esperança que cultivo para o futuro do ateísmo brasileiro.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

O DESCASO COM O PATRIMÔNIO, A HISTÓRIA E A MEMÓRIA DE PACOTI

O DESCASO COM O PATRIMÔNIO, A HISTÓRIA E A MEMÓRIA DE PACOTI

#O_DESCASO_COM_O_PATRIMÔNIO_A_HISTÓRIA_E_A_MEMÓRIA_DE_PACOTI

#AroldoHistoriador, único #Historiador em exercício em #Pacoti, e 2º historiador profissional da cidade, falando sobre o descaso da gestão do PV com o #patrimônio_público_arquitetônico, a História e a Memória da cidade de Pacoti-CE em sessão extraordinária na #Câmara_Municipal_de_Pacoti.

#AroldoHistoriadorOPoetaDaDemocracia