terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Stephen Hawking grava palestra em que conta sua história

hawkingConsiderado um dos maiores gênios da atualidade, o cientista britânico Stephen Hawking não pôde comparecer às comemorações de seus 70 anos pela Universidade de Cambridge devido a sua saúde frágil, mas ainda assim é um exemplo de desafio à ciência tanto do ponto de vista médico quanto de sua produção intelectual.

Embora ausente, Hawking enviou uma palestra gravada, intitulada “Uma breve história de mim”, em que contou sua história e urgiu a Humanidade a continuar a olhar para o céu pelo bem do futuro. Segundo ele, a espécie humana não vai sobreviver os próximos mil anos se não colonizar o espaço. "Lembrem-se de olhar para cima, para as estrelas, e não para baixo, para seus pés", pediu. "Tentem encontrar sentido no que veem e imaginar o que faz o Universo existir. Sejam curiosos".

Diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa incurável, em 1963, Hawking tem surpreendido os médicos com sua longevidade. Então aos 21 anos, ele ainda estudava para seu doutorado e a expectativa é de que vivesse no máximo mais dois e cinco anos mais. "De fato, o médico que me diagnosticou lavou as mãos e nunca mais o vi de novo. Ele achava que não havia nada que poderia ser feito", lembrou. "A princípio fiquei deprimido. Não parecia haver sentido em trabalhar no meu doutorado se eu não sabia se viveria o bastante para terminá-lo".

Ainda assim, quase meio século depois o cientista continua vivo e produtivo, tendo mudado o conhecimento que temos do Universo neste período. Seu trabalho jogou novas luzes sobre a origem do Cosmos e seu futuro, os buracos negros e a cosmologia quântica. E, apesar da natureza complexa dos assuntos que aborda, também contribuiu para a popularização da ciência. O título de sua palestra comemorativa, por exemplo, é uma referência explícita a “Uma breve história do tempo”, seu livro de maior sucesso, que vendeu mais de 10 milhões de cópias em todo mundo. Ele também já fez participações especiais em programas de TV como “Os Simpsons” e “Jornada nas estrelas”. "Nunca esperei que “Uma breve história do tempo” fosse ter um desempenho tão bom", reconheceu. "Nem todos podem tê-lo terminado de ler ou entendido tudo que leram, mas ao menos tiveram a ideia de que vivemos em um Universo governado por leis racionais que podemos descobrir e compreender".

Mesmo com cada vez mais dificuldades em se comunicar e trabalhar, Hawking permanece na vanguarda das pesquisas. Quase totalmente paralisado, atualmente ele usa pequenos movimentos nos músculos de sua bochecha para escolher letras e palavras em um sintetizador de voz. Isso faz com sua comunicação seja extremamente lenta, ao ritmo médio de uma palavra por minuto. Isso não o impede, porém, de chefiar as pesquisas no Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica de Cambridge, tendo apenas recentemente saído do posto conhecido como “Professor Lucasiano de Matemática” da universidade, título que outrora pertenceu a Isaac Newton. "Nossa imagem do Universo mudou muito nos últimos 40 anos e estou feliz de ter feito uma pequena contribuição para isso", disse. "O fato de nós humanos, que somos uma mera coleção de partículas fundamentais da Natureza, termos conseguido chegar tão perto de compreender a leis que nos governam e ao nosso Universo é um grande triunfo".

Entre o principais focos de estudo de Hawking no momento está a “Teoria M”, que pretende explicar a existência do Universo a partir da ideia de que existem vários universos, o chamado “multiverso”. "A Teoria M prevê que muitos universos diferentes foram criados do nada e que esses múltiplos universos podem surgir naturalmente pelas leis da física", explicou. "Cada um destes universos tem muitas histórias possíveis e muitos estados possíveis no futuro, isto é, em épocas como nosso presente, muito depois da criação. Muitos destes estados seriam bem diferentes do Universo que observamos e pouco hospitaleiros para qualquer forma de vida. Apenas alguns poucos permitiriam que criaturas como nós existam. Assim, nossa presença seleciona desta vasta gama de universos apenas aqueles que são compatíveis com nossa existência. Embora sejamos pequenos e insignificantes na escala do Cosmos, isso nos faz de certa forma senhores da criação".

Hawking também não hesitou em fazer nova aposta quanto a previsões da física teórica, embora já tenha reconhecido a perda em duas que fez com amigos e colegas, relativas à existência dos buracos negros e ao vazamento de informações destes monstros cósmicos. O cientista ofereceu 100 libras contra a possibilidade de o Grande Acelerador de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) encontrar o Bóson de Higgs, também conhecido como “partícula de Deus” e única das 32 partículas previstas pelo Modelo Padrão da Física cuja existência ainda não foi comprovada: "A Física seria mais interessante assim, mas provavelmente será outra aposta que vou perder".

Da Agência O Globo

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