segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

“ATEUS REVOLTADINHOS”

 

Se tem uma coisa que todo ateu já ouviu uma vez é que ele é revoltado. Que ele é nervoso ou rancoroso. Alguns religiosos justificam essa “característica” como sendo oriunda do fato dele “não ter deus no coração”, de ter um “vazio dentro de si”.

O ateu em geral também é invariavelmente condenado por ser muito racional. Eu mesmo já ouvi isso com a pior conotação possível. “Ah, mas você é muito racional, nunca será feliz assim”. Já deveria estar acostumado, mas ainda me impressiono quando ouço alguém criticar a racionalidade e dar-lhe um sentido negativo. Bom, parece que os religiosos não entendem mesmo que, nós ateus, só conseguimos ser felizes em nossa racionalidade. É isso que nos traz paz. Nossa capacidade de separar o real do ilusório e ainda assim apreciar tudo o que a vida traz de belo.

Como se não bastasse o ateu, segundo pesquisas, figurar em primeiro lugar na lista de preconceitos, sendo colocado à frente dos negros, dos homossexuais, dos usuários de drogas e das prostitutas, ele ainda é considerado um ser revoltado, uma pessoa raivosa.

Somos divididos em estúpidos sub-grupos baseado na patética argumentação de que se você diz que não crê em deus você é ateu, mas se você não crê em deus e diz “porque” você não crê em deus você é neo-ateu. Brilhante né?

É claro que nunca vi grupos de ateus se reunindo para agredir homossexuais na Avenida Paulista ou na orla de Copacabana. Nunca vi também associações de ateus colocarem capuzes brancos e queimarem negros. Tão pouco vi ateus dizendo que quem não concorda com eles será torturado por toda a eternidade.

Mas dessa vez sou obrigado a concordar com os religiosos. Isso mesmo: NÓS ATEUS SOMOS REVOLTADOS! Pronto admito para quem quiser ouvir. Somos revoltados e pronto.

Somos revoltados porque existem professores de ciência de escolas públicas que ainda se recusam a ensinar a evolução, somos revoltados porque a Igreja Católica não admite o uso de preservativos em continentes como a África onde a Aids é uma doença endêmica, condenando milhares a morte por via indireta.

Somos revoltados, porque missionários espancam suas mulheres quase até a morte porque afirmam que é a vontade de deus que elas se submetam a seus maridos. Somos revoltados porque em países como a Índia, com seus néscios sistemas de castas, pessoas são doutrinadas para acreditar que sua pobreza é merecida e fruto do carma de vidas passadas onde foram ruins.

Somos revoltados porque até hoje pessoas são mortas e mutiladas na África por facões cegos bradados por padres católicos que acusam pessoas de bruxaria. E antes que perguntem: sim, isso acontece hoje, não estou falando da idade média não.

Somos revoltados porque pessoas são ensinadas a odiarem sua sexualidade sob pena de irem para o inferno. Somos revoltados porque mulheres são convencidas a não exercer sua feminilidade, mesmo que existam igrejas onde a poligamia masculina seja permitida. Igrejas onde as meninas são convencidas a se casarem contra a sua vontade para não serem cobradas em suas pós-vida.

Somos revoltados por ensinarem crianças a odiarem homossexuais, por as doutrinarem a reprimir a sua homossexualidade e a odiarem seus corpos. Somos revoltados por dizerem que se forem gays são doentes e precisam “de cura”.

Somos revoltados porque pais religiosos frequentemente expulsam seus filhos de casa por serem gays quando o certo, o “cristão” a se fazer, seria amar-los e acolher-los, assim como um tal de “Jesus” faria.

Somos revoltados porque humilham e agridem quem é diferente deles com uma mão enquanto na outra seguram algo que é chamado de o “bom livro”.

Somos revoltados porque obras de arte de valor inimaginável como os Budas de Bamiyan foram destruídas pelos Talibãs, por aversão à “idolatria”. Somos revoltados pela pratica monstruosa da infibulação, que consiste em mutilar o clitóris de meninas e mulheres a fim de frear-lhes a sexualidade, e isso tudo com fundamentação em interpretação teológica.

Somos revoltados com a teocracia islâmica onde um o simples desobedecer ao pai ou mero namoro fora do casamento e da religião é punível com açoitamento público e dependendo do caso até a pena de morte por apedrejamento.

Somos revoltados quando sabemos que crianças de 10 anos de idade são forçadas a casar por mero atendimento à crenças e costumes religiosos oriundos de uma época onde as pessoas defecavam no mesmo local em que comiam.

Somos revoltados porque aqui mesmo no Brasil, onde uma outra criança de 9 anos foi estuprada e engravidou e ter um aborto autorizado, ser comunicada que tanto os médicos que fizeram o procedimento, assim como a família que a permitiu, foram excomungados pela Igreja Católica. Somos revoltados também, porque essa mesma igreja Católica não teve essa mesma atitude para com o animal que praticou tal estupro e não o excomungou também. Ora, que pesagem é essa? Que mensagem é essa perpetuou?

Nós ateus nos revoltamos com o fato de que essa mesma Igreja Católica só reconheceu e se desculpou em 1992 pela injustiça que praticou com Galileu em 1663. Nos revoltamos porque 300 anos é muito tempo até se pedir desculpas.

Nós ateus ficamos revoltados quando vemos pessoas diariamente sendo roubadas e abusadas em sua fé por pastores que lhes passam a perna sem a menor piedade. Por larápios disfarçados de cordeiro com suas mansões na Flórida e seus aviões a jato.

Nós ateus ficamos revoltados quando ouvimos que forças sobrenaturais ou entidades atuam e produzem efeitos sobre um mundo natural, mas são totalmente invisíveis e indetectáveis nesse mesmo mundo natural.

Nós ateus ficamos revoltados quando religiosos nos afirmam que não podemos julgar ou discernir os atos ou omissões divinas faces às tragédias do cotidiano e dizer que deus é mal por isso, vez que nosso critério, por ser humano, é falho, quando esses mesmos religiosos, usam esse mesmo critério humano e falho, para dizer que deus é bom e justo.

Nós ateus somos revoltados vez que não aceitamos com passividade o fato da humanidade se matar de forma rotineira com base em livros sagrados contraditórios e sem nenhuma justificativa que os sustente a não ser a fé de quem os professa.

Nós ateus nos revoltamos quando assistimos aviões serem jogados a 500 KM por hora contra prédios. Nos revoltamos quando vemos cristãos matarem muçulmanos e muçulmanos matarem judeus em um loop de violência infinita em nome de um deus que nunca apareceu nem para um cafezinho.

Nós ateus nos revoltamos sim. E temos orgulho dessa revolta. Temos orgulho de propagarmos o pensamento crítico, o embasamento científico doa a quem doer. Temos orgulho de colocar o dedo na ferida. Temos orgulho de dizer que todos que afirmam suas certezas deveriam ter a obrigação de demonstrar-las com evidências ao invés de empurrar a sujeira para baixo do tapete.

Nós ateus temos vergonha quando religiosos aduzem que a terra foi feita para eles quando sabemos que somos apenas poeira estelar e que a humanidade é um mero piscar de olhos na vastidão do tempo e do espaço.

Nós ateus ficamos revoltados quando religiosos nos chamam de radicais e intolerantes por dizermos: “nós não concordamos com vocês”, “que evidências vocês tem para corroborar o que afirmam”.

Nós ateus nos revoltamos quando religiosos querem tentam passar a imagem de que a revolta ateísta pela religião ocorra não pela religião em si e suas mazelas de clareza meridiana, mas sim porque há algo de errado conosco.

Mas sobretudo, nós ateus nos revoltamos, porque vocês religiosos não se revoltam. Porque não se indignam com tudo o que acontece ao redor do mundo em seu próprio país nas bem nas suas barbas. Que legado deixarão para seus filhos? Um país baseado nas ideias da bancada evangélica? É isso mesmo!?!?! Que não reclamem depois!

Por derradeiro que fique claro que, enquanto essas injustiças forem praticadas, esse tapa na cara do bom senso e da postura intelectualmente mais correta continuar, vocês religiosos terão que lidar com esses “ateus revoltados”.

Esses mesmos ateus revoltados que, durante muitos séculos e até nos dias de hoje, foram e são, perseguidos torturados e mortos. Esses ateus revoltados que, ao longo da história, contribuíram para que a ilusão nunca sobrepujasse a razão. Que trabalharam incessantemente para entregar maravilhas científicas. Que de forma inelutável sangraram para que o ser humano fosse reconhecido por sua mortalidade, falibilidade e racionalidade e ainda assim fosse imprescindível. Termino lembrando o belo questionamento de Douglas Adams: Será que não é o bastante ver que um jardim é bonito sem acreditar que ha fadas escondidas nele?”. Penso que sim…e vocês?

Humberto P. Charles

14 comentários:

  1. Boa ñ somos nada disso.
    http://claudiopachecobh.blogspot.com/2011/12/venho-recebendo-varias-perguntas-se.html

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  2. Ótimo texto. Penso exatamente assim. Coloquei esse texto em meu blog, com os devidos créditos. Se tiver algum problema me avise que eu tiro.

    Abraços

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  3. Fique a vontade Eric, só passa o endereço do seu blog, pra mim poder divulgar ele aqui também.
    Eric acho que vc só leu o título do texto...

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    1. Oi, o meu blog é www.pensedenovo.com.br, e eu li o texto todo sim.

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    2. Então das duas uma; ou vc não é ateu, só se acha ateu, ou vc é um tremendo de um egoísta.

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    3. Agora não entendi nada. Você poderia me explicar por que?

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    4. Há foi mal eu me confundi, com o claudio pacheco, deusculpa rs

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  4. Olá... passando pra dizer que achei o texto inspirador, direto e preciso. Vou postá-lo no meu blog, com os devidos créditos.

    http://soudotamanhodoqueeuvejo.blogspot.com/

    Abraço.

    Vinicius

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  5. Excelente texto,
    poderia informar qual é a música tocada??

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    1. Schindler's List Soundtrack 5: Schindler's Workforce
      Theme From 'Schindler's List' - Itzhak Perlman
      Schindler's List - 14 - Theme From Schindler's List (Reprise)
      Essas são algumas versões tirada do filme a A Lista de Schindler
      Nossa obrigado por perguntar, assim me deu vontade de pesquisar com exatidão, sabia que era desse filme, só não imaginava que fosse chorar tanto... Realmente filme é emocionante demais.Vou ver se acho ele completo no YouTube aí posto aqui no blog.

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  6. Bom, eu sou evangélica e concordo com a maior parte das coisas que disse...

    Realmnete há muitas coisas revoltantes nos religiosos...

    Parabéns pelo texto.

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    1. Bom obrigado, fico muito feliz e cheio de esperanças ao saber que uma pessoa evangélica concorda com que seja uma coisa do texto, isso já me deixa muito feliz, pois vejo de ambas as partes não devemos ter preconceito com ninguém, isso não é legal.Muitas vezes muitos de nos ateus vemos religiosos como pessoas ignorantes, assim como muitos religiosos nos veem como pessoas capazes de praticar as piores atrocidades, como os próprios diabos que determinados religiosos pintam.
      Posso até ser ateu, mas sempre guardo uma passagem da bíblia: "ame a seu próximo como a ti mesmo" o resto descarto, pra mim se a bíblia fosse um livro de moral, bastaria essa frase para resumir ela toda, mas o que eu vejo por aí na maioria das religiões que seguem as leis de Moises justamente o contrário, as vezes representa que no meio dessa simples frase existe um () com o resto do livro todo de exceções. Realmente isso é revoltante. Mas me animo ver que existem pessoas como você que não observam esse () e só dá atenção a frase "ame seu próximo como a ti mesmo". Posso até estar errado no meu julgamento a sua pessoa, mas prefiro acreditar que estou certo.

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  7. Que texto foda! Palavras que levarei, pensarei e questionarei quando for questionada. Parabéns!

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